A
República de Libertália:
A Ilha
de Madagascar fica no Oceano Índico, na costa Oriental da África, sendo considerada uma das maiores ilhas marítimas do mundo! Ela também possui uma
rica tradição cultural, que vem desde a época em que recebeu os primeiros
colonos malaio-polinésios, procedentes do Oceano Pacífico, à cerca de 2.000
anos atrás! Eles introduziram na ilha o cultivo da banana, do coco, da
fruta-pão, do arroz, da cana-de-açúcar, do inhame, etc. Estas culturas
agrícolas se espalharam depois pelo resto do continente africano.
A
partir do século X, começaram a aparecer em Madagascar os comerciantes árabes,
que batizaram a ilha de “Jazeera al Gamar”, que significa “Ilha da Lua”. Em
1500 chegaram os portugueses, comandados pelo navegador Diogo Dias, que
rebatizou a ilha como Ilha de São Lourenço.
Durante
os séculos XVI e XVII Madagascar serviu de refúgio para muitos piratas que
encontraram ali, e em outras pequenas ilhas do norte de Madagascar, hoje
conhecidas como Arquipélago das Comores e Arquipélago das Seychelles, um
paraíso para o seu descanso e refúgio!
Na Ilha
de Sainte Marie, na costa nordeste de Madagascar, se refugiaram alguns dos
piratas mais famosos daquela época, como William Kidd, John Avery, Thomas Tew,
Christophe Condent, Oliver Vasseur e o pirata inglês Adam Baldridge.
Em 1625
foi Criado o Reino de Merino, que unificou a parte central da Ilha de
Madagascar e fundou a capital em Antananarivo, (vejam no mapa). A dinastia dos merinos foi
marcada pela perseguição aos europeus, cristãos e missionários. Seu principal monarca
foi Radama I, que obteve o controle de toda a ilha, e governou de 1810 até
1828. Ele expulsou e matou muitos europeus. Mas, em 1885 a França derrotou a
rainha nativa Ranavalona III e fez da Ilha de Madagascar uma colônia francesa.
Atualmente cerca de 90% da mata da ilha de Madagascar já foi devastada, infelizmente, e um dos maiores
problemas do país é a erosão! Apesar disso, Madagascar ainda tem uma das
maiores diversidades da flora e da fauna em todo o planeta, abrigando milhares
de espécies de pássaros, répteis e anfíbios! Os lêmures são primatas
característicos desta ilha. A ilha tem os maiores depósitos de titânio do
mundo, mas faltam recursos para explorá-los. A maioria da população segue a
religião católica ou protestante.
Na Ilha
de Madagascar existe uma lenda muito interessante sobre a fundação de uma
república utópica e independente, por piratas do Oceano Índico, na Ilha de
Sainte Marie, no ano de 1695, e que se chamou “República de Libertália”.
Libertália
foi fundada pelo pirata francês François Mission, que também obteve a ajuda de
um padre italiano, na parte ideológica, chamado Angelo Carraccioli. Eles se
cansaram de guerrear nos mares, e então decidiram fundar uma sociedade utópica, na
Baía de Diego Suarez, na Ilha de Santa Maria, em Madagascar, onde todos seriam tratados de maneira
igual.
Uma república baseada na Liberdade, Igualdade e Fraternidade! François Mission antecedeu o movimento do Iluminismo, com os seus
ideais de liberdade de expressão e de igualdade entre os homens!
Mission
usava o seu navio, uma fragata chamada “Liberty”, para saquear os navios
negreiros e libertar os escravos! Na ilha todos viviam em liberdade. Era uma espécie de paraíso, onde os piratas encontravam um lugar para se esconder e se divertir. A ilha era muito bonita, haviam muitas mulheres que se entregavam facilmente e existia uma grande fraternidade entre os que lá viviam.
Dizem que, no dia em que a República de Libertália foi
declarada, François Mission subiu num palanque de madeira improvisado e discursou
assim para os seus companheiros:
“Aqui começa hoje a República de Libertália! Nós nos dedicaremos
à difusão da liberdade, do amor, da tolerância, da liberdade de fé e da
proteção da humanidade, sem distinção de raça. E que a nossa fortuna seja igual
à grandeza da nossa esperança!”.
Dizem
que o famoso pirata inglês Thomas Tew foi escolhido para ser o comandante de
uma pequena frota de navios da República de Libertália.
Anos depois, ele teria
relatado a criação desta sociedade utópica para um tal de Capitão Charles Johnson,
que mais tarde escreveu um livro falando sobre estes piratas idealistas. O mais interessante foi saber que os historiadores já confirmaram que Charles Johnson era um pseudônimo usado pelo famoso escritor
inglês Daniel Defoe!
Segundo historiadores, um dos piratas que buscou refúgio em Libertália foi o Capitão
William Kidd, que lá esteve, em 1697, para efetuar reparos no seu navio. Porém, muitos pesquisadores afirmam que o verdadeiro nome de François Mission era Adam Baldridge, um famoso
pirata inglês que chegou na Ilha de Santa Maria em 1685. Baldridge fundou
vários armazéns, que comercializavam vários produtos de Madagascar, e também construiu
uma fortaleza numa colina, onde ele tinha um harém com várias mulheres. Sua vida também daria um livro muito interessante!
Contudo,
esta sociedade utópica acabou sendo invadida pelos nativos malgaxes. Alguns
piratas morreram nesta luta, como o padre Carraccioli, mas outros conseguiram
escapar, na fragata Liberty, partindo para a América, onde teriam naufragado no
litoral brasileiro, depois de uma tempestade. As lendas falam que alguns dos
tripulantes se salvaram, e ainda tentaram difundir os seus ideais de liberdade
pela região da costa brasileira.
Mas, o
que realmente é verdadeiro é que esta história pode ter servido de inspiração
para, 24 anos depois, o famoso escritor Daniel Defoe, usando o pseudônimo de
Capitão Charles Johnson, escrever um livro chamado “História geral dos roubos e
assassinatos dos mais notáveis piratas”, onde ele comenta a criação da
República de Libertália! Recentemente, outro escritor que reviveu o tema foi o
jornalista francês Daniel Vaxelaire, com o seu livro “Os revoltosos de Libertália”.
Se
Libertália existiu ou não, ainda não sabemos realmente, mas dizem que o livro
de cabeceira de alguns dos maiores defensores do iluminismo, e de outros que
proclamaram a independência dos Estados Unidos, tais como Voltaire, Franklin e
Lafayette, foi o livro escrito pelo Capitão Charles Johnson! Este livro pode
ter inspirado também, mais tarde, alguns dos ideólogos do anarquismo
libertário.
Ao lado vemos uma fotografia atual da Baia de Diego Suarez e dos lugares onde tinha sido montada a República de Libertália pelos piratas do Oceano Índico.
Acredito que uma das
formas mais apropriadas do ser humano se organizar socialmente, e tentar
interagir mais racionalmente com a Natureza, seria a vida em pequenas
comunidades ecológicas, parcialmente auto-suficientes, devidamente organizadas
e integradas dentro de uma rede de comunidades capazes de produzir a maioria
dos produtos que as pessoas precisam. Estas comunidades ficariam parcialmente
livres da dependência da Sociedade de Consumo Tradicional, teriam os seus
próprios líderes, e até uma religião exclusiva!
Dentro das comunidades ecológicas
e libertárias as pessoas podem viver mais felizes, se ajudando, se respeitando
e respeitando a natureza também. Mas, este é um sonho nem sempre fácil de ser
alcançado pela humanidade! Finalizando, gostaria de repetir novamente aqui as
sábias palavras do pirata francês François Mission, da República de Libertália,
quando subiu no palanque para falar com os seus companheiros:
“Que a nossa fortuna
seja igual à grandeza da nossa esperança!”