As
primeiras cidades, a estratificação social e o aparecimento do Estado:
Segundo estudos recentes, a espécie humana atual surgiu no Vale do Rio Omo, no sul da Etiópia. No começo da sua existência, a espécie Homo Sapiens teve que conviver com outras espécies do Gênero Humano, tal como o Homo Erectus e, muito provavelmente, com o Homo Rudolfensis, que habitava o norte do Lago Rudolf, (ou Lago Turkana), onde o Rio Omo desagua.
O
Homo Sapiens Primitivo tinha uma capacidade craniana inferior à das outras
espécies humanas com as quais convivia, mas, devido à sua superior capacidade
de organização, fala, troca de informações e tipo físico mais leve e menos
desengonçado, ele passou a predominar por todo o nordeste da África e resolveu
migrar também para a Europa e a Ásia.
Os especialistas afirmam
que a nossa espécie atual já é uma transformação, ocorrida a cerca de 200 mil
anos atrás, da espécie Homo Sapiens Primitiva, e que nós somos classificados
como Homo Sapiens Sapiens, ou seja, “O homem que sabe que sabe”, ou que tem
consciência do seu papel dentro do mundo! Desde o aparecimento da nossa
espécie, no Vale do Rio Omo, no sul da Etiópia, até a época atual, passaram-se
apenas 200 mil anos. E hoje já somos mais de sete bilhões de Homo Sapiens,
convivendo juntos, neste pequeno planeta que gira em torno da estrela Sol!
O
Homo Sapiens desenvolveu uma cultura intelectual bastante criativa, e uma
tecnologia material avançada. Com a observação da natureza que o cercava, o Homo
Sapiens percebeu que também poderia usar a força do vento, dos rios e dos
outros animais para movimentar os barcos, a roda dos moinhos e o arado, nas
plantações que começou a fazer, em volta dos seus acampamentos transitórios. Também
aprendeu a domesticar outros animais e plantas, encontrados na natureza, e dos
quais se serviu, tais como o cão, o ganso, o boi, a abelha, o trigo, a cevada,
a ervilha, e a abóbora. A domesticação foi um fator de redução da
biodiversidade destas espécies, uma vez que a domesticação de animais e plantas
provocou uma seleção artificial de alguns seres vivos, em detrimento de outros,
que o ser humano procurou eliminar, por considerá-los hostis à sua
sobrevivência, e por ignorar o seu real papel dentro dos ecossistemas.
No começo de sua história,
o ser humano foi nômade, isto é, vivia correndo atrás da caça, da pesca, da
coleta de alimentos, e quase não se fixava num determinado lugar. Com o
desenvolvimento da agricultura, o homem começou a se fixar mais em determinados
lugares, onde ele encontrou condições ambientais favoráveis, água, abrigo e
possibilidades de se defender melhor dos ataques das feras e das tribos
inimigas. Nestes locais, ele teve mais tempo para se dedicar ao cultivo da
terra, à domesticação de plantas e animais, à produção dos objetos que necessitava,
ao estudo da natureza e para se dedicar à arte e ao lazer. O ser humano
modificou seus hábitos e, em vez de ser somente nômade, passou a ser também
sedentário, isto é, começou a se fixar mais nos lugares por onde passava.
Nestas aldeias, ou
comunidades neolíticas, o ser humano começou a se especializar nas artes e
ofícios, tais como a cerâmica, a pintura, a construção de casas, a fabricação
de armas e ferramentas, a seleção de mudas e sementes, a confecção de roupas e
redes de pesca, o armazenamento daquilo que produzia, a criação de métodos para
medir o tempo e as colheitas, e também se especializou no estudo da natureza e
dos seus mistérios. Assim, o ser humano deixou de ser um mero curioso, para se
transformar num especialista!
Como
já dominava muito bem o fogo, o ser humano conseguiu construir fornos, onde
começou a derreter os primeiros minérios que utilizou, tais como o chumbo, o
cobre e o estanho. Então, saiu da Idade da Pedra para entrar na Idade dos Metais!
Logo em seguida, descobriu que podia derreter o cobre, junto com um pouco de
estanho, para obter o bronze, uma liga metálica que é bem mais resistente que o
cobre. Estava inventada assim a metalurgia!
O homem também percebeu
que podia ampliar ou alterar a força de alguns mecanismos usando alavancas,
correias e engrenagens dentadas. Com isto, começou a construir os primeiros
moinhos e os mecanismos de captação da água dos rios. Suas colheitas de cereais
começaram a aumentar, e ele foi obrigado a construir silos e depósitos para
guardar as colheitas. Nas margens dos rios e dos lagos, onde passou a morar, ou
seja, nas regiões fluvio-lacustres, o homem descobriu que podia usar a força do
vento para movimentar as embarcações que construiu. Então, passou a usar
tecidos para fabricar as velas, que captavam as rajadas de vento e faziam as
embarcações navegarem melhor.
Logo
depois, as primeiras aglomerações humanas começaram a aparecer. Isto deu origem
às primeiras vilas e aldeias primitivas, que se localizavam nas margens dos
rios e lagos, onde a pesca era abundante e os homens podiam usar facilmente as
suas embarcações. Mais tarde, estas vilas e aldeias começaram a se transformar
nas primeiras cidades que existiram, na Ásia, à cerca de 7.000 anos antes de
Cristo, tais como Jericó, Eridu, Harappa e Mehrgarh.
Alguns
estudiosos acham que o desenvolvimento da agricultura foi o maior erro na
história da raça humana! Aqueles grupos humanos nômades que continuaram se
utilizando da caça e da coleta, dentro da sua região, mantinham um equilíbrio maior
com o meio ambiente e não destruíam os ecossistemas. Por outro lado, os grupos
que passaram a fazer parte da nova sociedade agrícola que se formou, desmatavam
os campos e as florestas nativas para implantar uma agricultura comercial que
produzia mais do que era necessário para o consumo, visando a produção de um
excedente para ser comercializado! Adotavam também práticas agrícolas
devastadoras, como a queimada, a derrubada das florestas e a domesticação de
plantas e animais. Tudo isto enfraquecia os solos, prejudicava as nascentes,
acabava com a flora e a fauna de algumas regiões, e aumentava o número de
pragas.
Mas, a ambição humana e a
competição, entre os agricultores, foi mais forte, e alguns começaram a procurar
novas terras para desmatar e plantar, com a intenção de produzir mais
excedentes agrícolas para comercializar. Isto lhes proporcionou um bom lucro,
com o qual puderam se sobrepor aos outros agricultores e aumentar o seu poder
pessoal, dentro das sociedades em que viviam!
Com o comércio e a troca
dos excedentes agrícolas, começaram a aparecer as primeiras sociedades
estratificadas onde, aqueles que lucravam mais com as trocas, passaram a
constituir uma classe social mais abastada, chamada de elite social. Assim, a
comercialização do excedente agrícola ocasionou o aparecimento das primeiras
elites e classes sociais privilegiadas, nas antigas sociedades pré-históricas!
O ser humano faz parte da
biosfera terrestre, mas começou a interagir com os outros seres vivos de
maneira desarmônica! Os seres vivos, não domesticados pelo homem, continuaram
dependendo uns dos outros e interagindo com o meio ambiente, nos diversos
ecossistemas onde viviam. Mas, com o desaparecimento dos ecossistemas de
algumas regiões, para dar lugar aos agronegócios do ser humano, muitos seres
vivos daquelas regiões começaram a ser extintos.
O
seres humanos pouco sabiam a respeito de como os ecossistemas complexos
funcionavam, e não se preocuparam em tomar nenhuma medida especial para avançar
sobre estes ecossistemas. Acontece que, cada ser vivo, tem um determinado
ambiente onde ele se adapta melhor e, quando os ecossistemas, onde eles viviam,
começaram a ser modificados pelo homem, a sobrevivência de inúmeras espécies
começou a ficar ameaçada. A maioria das formas de vida era frágil demais, em frente
ao avanço conquistador do ser humano dentro da biosfera e, infelizmente,
algumas espécies de plantas e animais desapareceram para sempre!
O
homem prosseguiu, devastando e degradando a biosfera, sem se preocupar com o
equilíbrio existente na natureza. Uma grande quantidade de ecossistemas, que
foram organizados em teias alimentares, estabelecidas durante milhões de
gerações, e que demoraram milhões de anos para se formar, foram destruídos pela
implantação de uma agricultura comercial devastadora!
O
homem tem a obrigação de estudar e entender melhor o papel dos seres vivos na
natureza e respeitar os processos que eles utilizam para manter um equilíbrio
harmonioso dentro dos ecossistemas. Desta maneira, ele estará preparado para
compreender também qual é o seu papel fundamental na natureza. Pois, estando
consciente da destruição que as suas ações estão causando, nos diversos
ecossistemas da Terra, ele vai procurar proteger mais estes ecossistemas para
não provocar a sua própria extinção!
As elites das antigas
sociedades agrícolas procuraram garantir e conservar os seus privilégios de
classes sociais mais abastadas! Partiram então para a criação de estratégias de
manutenção e administração das suas fortunas, propriedades e privilégios
sociais, querendo com isso, impedir o avanço e o acesso da maioria da população
às suas terras e aos seus meios e métodos de acumulação de riquezas! Assim,
foram criadas as primeiras ideologias e políticas de dominação das classes
sociais que, apoiadas nos costumes e nas normas sociais, muitas vezes criadas
pelas próprias elites, garantiram o surgimento das classes sociais dominantes!
As
classes dominantes se apropriaram das terras mais férteis e das técnicas de
produção e comercialização do excedente agrícola, o que lhes possibilitou obter
o poder econômico da sociedade. Com o controle do poder econômico, as elites
passaram também a disputar o controle do poder político e ideológico da
sociedade. O domínio sobre o saber coletivo, sobre as leis sociais e sobre a
religião foi uma das estratégias adotadas pelas elites sociais para se
garantirem no poder. As alianças com os chefes das tribos e dos clãs também
lhes permitiu obter uma grande participação no domínio das sociedades.
Para as outras classes
sociais, menos favorecidas e dominadas, só restou procurar sobreviver e adotar
outras estratégias para tentar chegar às posições defendidas pelas classes
sociais dominantes. Assim, apareceram as primeiras lutas de classe na história
do ser humano!
As classes sociais que
faziam parte dos extratos médios das populações, começaram a trabalhar para as
elites ou a desempenhar serviços de apoio para o resto da população. Assim,
surgiram as primeiras profissões liberais da história e que eram, por exemplo,
os pedreiros, os carpinteiros, os marinheiros, as costureiras, as quitandeiras,
as prostitutas, as parteiras, os ferreiros, os pintores, os oleiros, enfim,
todos aqueles que desempenhavam tarefas necessárias para as elites e a
população em geral.
Há cerca de 6.500 anos
atrás, começaram a se formar os grandes aglomerados humanos nas margens dos
maiores rios do planeta, o que deu origem ao surgimento das primeiras grandes
civilizações e impérios da história. Nas margens de grandes rios como o Nilo, o
Tigre, o Eufrates, o Ganges, e outros, surgiram grandes cidades, com sociedades
organizadas, governos burocráticos e grande número de funcionários, o que deu
origem a reinos e impérios concentradores da riqueza e do poder. Esta riqueza,
acumulada nas grandes cidades, permitiu o controle de uma grande extensão
territorial e a realização de grandes obras públicas, como a construção de
palácios, templos, estradas, pontes, arenas públicas, aquedutos e demais obras
faraônicas.
Os
representantes das elites e os chefes políticos criaram uma forma centralizada
de poder e de organização política que deu origem ao surgimento do Estado.
Inicialmente, o Estado foi criado para conduzir melhor as grandes obras de
interesse das sociedades existentes nas grandes cidades daquela época.
Além de dirigir os
trabalhos de construção e recuperação das obras públicas, o Estado procurava
também organizar os trabalhos de produção e armazenamento de alimentos,
prestava serviços à sociedade, organizava a força policial permanente e patrocinava
o pagamento dos funcionários e dos militares.
Com o passar do tempo, porém,
a minoria que detinha o controle do Estado, além de prestar serviços à
sociedade, passou também a explorá-la, criando várias taxas, impostos e
aumentando os seus privilégios de elite dirigente! Assim, criou-se uma casta de
dirigentes e funcionários públicos que se apropriou do Estado, e procurou criar
estratégias e políticas para se perpetuar nos seus cargos e manter os seus
privilégios de classe dirigente, dentro dos impérios e reinos que eles administravam.
Os
líderes e chefes supremos, dos militares e funcionários estatais, receberam o
nome de rei, imperador, faraó e outras designações. Eles procuraram criar uma
ideologia que procurava explicar e garantir os seus direitos de governantes, e
que era imposta, aos demais membros da sociedade, com a ajuda do poder militar
e também da religião oficial. Eles passaram a ser vistos como humanos
divinizados, isto é, representantes de Deus aqui na Terra, e do qual recebiam
diretamente o direito de governar o Estado!
Assim, o governante
supremo foi divinizado e passou a explorar, através de trabalhos forçados e da
cobrança de tributos, a população das comunidades e aldeias que existiam dentro
do território do seu Estado! Para conseguir mão de obra barata e suficiente, os
reis e imperadores daquela época faziam guerras e aprisionavam as pessoas, que
eram levadas para trabalhar como escravos nas grandes obras públicas. Assim,
além de explorar a natureza, o ser humano também começou a explorar o próprio
ser humano, e surgiu assim a exploração do homem pelo próprio homem!
Ao
longo da sua história, algumas coisas que os seres humanos fizeram foram boas,
mas outras não. Muitas coisas serviram para dar mais alegria e felicidade para
as pessoas, enquanto que outras, por causa da ambição e da cobiça, inerentes à
personalidade humana, infelizmente, trouxeram apenas desgostos e maldades...
A
história da humanidade também possui muitos episódios que refletem o egoísmo
humano, que é inerente aos grupos minoritários dirigentes de diversas
sociedades mundiais. Grupos estes que são compostos, quase sempre, por elites
que, ao dominarem a máquina do Estado, a economia, os meios de comunicação e as
forças repressivas, procuram se perpetuar no poder e ter exclusividade nos seus
privilégios! Isto sempre causa um conflito com os outros grupos majoritários compostos
pelas classes exploradas da sociedade. Esta maioria sofrida, que forma a base
da pirâmide social, procura combater o domínio das minorias privilegiadas com a
intenção de melhorar as suas condições socioeconômicas e também participar do
poder.
Apesar de tudo, estes
acontecimentos históricos, pelos quais a humanidade tem passado, também serviram
de exemplos, foram etapas importantes para a evolução moral e ética das
sociedades, e serviram para o ser humano tentar se corrigir e entender melhor o
seu semelhante, respeitando mais a natureza e também os outros seres vivos.
Muitas vezes, nos esquecemos de considerar também a natureza, os outros
animais, as plantas e as diversas paisagens e habitats ecológicos que existem no
nosso planeta. Nos esquecemos de considerar que, se eles desaparecerem, nós
também desapareceremos!
Frequentemente, perdemos
tempo com mesquinharias e hipocrisias que procuram justificar as injustiças
sociais, e com ódios e instintos primitivos que causam muitos malefícios. Tudo
isto nos faz esquecer que a nossa vida é muito curta e preciosa, apenas um
breve lampejo, no curto espaço de tempo das nossas existências na biosfera deste
lindo planeta! Entretanto, a vida é uma riqueza incalculável! Nem sempre
notamos o quanto é maravilhosa toda esta natureza cheia de vida que nos cerca.
Inclusive, a nossa frágil existência, no meio deste imenso Universo, constitui
um milagre inexplicável e misterioso, e que ainda não conseguimos entender
direito!
Finalmente,
gostaria de dizer que uma das maneiras mais apropriadas do ser humano viver em
sociedade, respeitando também a natureza e os outros seres vivos, e tendo uma
vida mais feliz e participativa, é a organização de pequenas comunidades
alternativas, ou ecovilas, parcialmente independentes da sociedade destrutiva
tradicional, fazendo parte de uma grande rede de comunidades irmanadas, parcialmente
autossuficientes, produzindo suas próprias máquinas e combustível, vivendo da
terra, praticando uma agricultura ecológica e permanente, tendo os seus
próprios líderes e a sua própria religião, enfim, criando uma organização
social forte, harmoniosa e atuante.
Norton Kornijesuk